segunda-feira, 11 de junho de 2012



Fico meio sem jeito, meio muda, rouca e engasgada quando preciso dizer a palavra certa e ela se esconde de mim. É incrível como absolutamente nenhuma letra do alfabeto chega para me fazer companhia quando alguém morre. É uma solidão vestida de luto e abandono. Parece que as letras se vestem de preto e choram, caladas.

Acho muito pouco dizer sinto muito ou meus pêsames. Acho pouco dizer pode contar comigo. Acho pouco dizer que vai passar, afinal, não vai passar. Perder alguém dói mais do que a própria dor. Só você sabe o que sente quando perde alguém especial. Posso até tentar me colocar no seu lugar, mas vai ser em vão. Eu não sou você, não vivi o que você viveu, não sei da relação que você e a outra pessoa tinham. Por isso, mesmo querendo não posso te compreender.

Perdi meu avô. E doeu. Perdi parte da minha avó. E dói todo santo dia. Não quero nem pensar em perder meu pai ou minha mãe. Deve ser a dor que mais dói. Não importa se você se dá super bem ou super mal com seus pais. Não importa se existe um elo forte ou frágil. Pai e mãe são seres meio sagrados. Todo mundo tem uma lista infinita de abraços dados e não dados, ensinamentos recebidos, traumas que ficaram guardados, rancores que passaram, mágoas que se afogaram, coisas bonitas na memória, coisas não tão belas no fundo do armário interno. Pai e mãe são a primeira referência, o primeiro baú de histórias, a primeira palavra, o primeiro dente, o primeiro passo, o primeiro dia na escola, o primeiro machucado, o primeiro colo, o primeiro conforto, a primeira palavra ríspida, a primeira porta batida.

Acho pouco dizer que na vida as coisas acontecem na hora que têm que acontecer, apesar de acreditar nisso. Aqui todo mundo tem uma meta pra cumprir, um caminho, uma missão. Mas isso não é o suficiente, palavras não são suficientes para dizer ei, entendo a tua dor. Porque essa dor ninguém entende. Ela é única, exclusiva. E, infelizmente, ninguém pode te salvar de sentir cada parte desse sentimento dolorido. É egoísmo querer a pessoa de volta. É egoísmo pensar pura e simplesmente no que você sente. É egoísmo, sim, mas é inevitável. E quer saber? Somos humanos, somos egoístas, essa é a nossa natureza.

Alguns dizem que é melhor partir do que ficar aqui sofrendo, não é mesmo? Mas e quando o outro não estava sofrendo? E quando ele estava saudável, bem, com uma vida inteira pela frente e uma tragédia acontece? Não temos desculpa pra dar, a não ser o bom e velho “a vida quis assim”. Fatalidades acontecem todo dia. Os jornais nos contam isso todos os dias. Mas quando é dentro da nossa casa a coisa muda de figura.

Fico com uma vergonha, uma falta de tudo, uma vontade imensa de poder oferecer um conforto, um cobertor, uma proteção. Mas quem sou eu para oferecer abrigo? Não sei das suas neuras, das coisas mal resolvidas, das emoções guardadas, não sei de nada. A história é sua. A perda é sua. Só posso dizer que realmente sinto muito. Que imagino como seja difícil. Que acredito que o tempo vai amenizando as coisas. Que a gente deve rezar para quem partiu ter luz, muita luz. Que a gente deve tentar ser forte. Mas quem sou eu para dizer tudo isso?

Olha, as pessoas não deviam partir. É isso que acho: todo mundo tinha que ser eterno. Mas, por outro lado, as lembranças são eternas, ficam dentro da gente. E se nós estamos aqui para cumprir uma missão e depois seguir em frente, que assim seja. E que num futuro todo mundo se encontre e seja feliz para sempre. É isso que desejo, pra mim, pra você e pra todo mundo.


Clarissa Corrêa